Cudo é um cara tranquilão, capaz de ficar nu (e ficou) em plena Felipe Schmidt, movimentada rua do centro de Floripa, se isso servir como base para a entrega total ao personagem da vez. Além de ator, o rapaz é músico, dirigiu e atuou em curta-metragens, participou do coletivo de ativismo cultural Expressão Sarcástica e apresentou o programa Patrola, na RBS TV.
Olá, Cudo. Quando você começou a atuar? De que modalidades de teatro você já participou?
Comecei no teatro aos 13 anos e já fiz muito teatro de palco, dos mais variados gêneros: comédia, tragédia, teatro do absurdo, drama, teatro político, teatro de animação, teatro infantil, e claro, teatro de rua.
Como é o trabalho com o ERRO Grupo? Como vocês definem a proposta do ERRO?
O ERRO Grupo se define por uma espécie de hibridização do fazer teatral, fundindo elementos do teatro, das artes visuais, da performance, mas sempre com o olhar voltado para o espaço urbano. Por conta dessa multiplicidade de elementos das mais variadas linguagens, definir o trabalho do ERRO sempre deu muito trabalho, mas nós adotamos o termo “teatro”, pois entendemos que o teatro é a forma artística que abrange todos os elementos oriundos de outras linguagens e tanto a performance, quanto a intervenção e ação cabem dentro da noção de teatro que usamos. E como agimos no espaço urbano, é evidente que a rua aparece na definição, ficando “teatro de rua” como a definição do nosso trabalho. Mas também deixamos livre para quem quiser classificar de forma diferente, sejam críticos, jornalistas ou até mesmo outros artistas.
Como você vê o jornalismo cultural catarinense? Consideras que há espaço para o debate de políticas públicas para a cultura, ou os cadernos destinados ao assunto nos jornais locais funcionam mais como agenda de eventos? Se sim, o espaço destinado a divulgar as produções alternativas é proporcional ao espaço destinado às as produções comerciais?
Essa é uma questão que, embora eu tenha trabalhado por algum tempo na área do jornalismo, mais especificamente do jornalismo cultural, e ainda não entendo ao certo o que se passa. O que sinto é que há uma vontade, um desejo muito forte dos jornalistas dos cadernos/editorias ligados à cultura de estabelecer um cenário e que aos poucos vai se abrindo esse espaço para debate. Mas ao mesmo tempo, não sei dizer se o público leitor destes veículos se interessa por isso. De todo modo, podemos notar algumas trincheiras que já foram abertas e estão sendo defendidas. Acho que é um passo gradual e natural, na mesma medida que a própria produção artística vai se intensificando e se consolidando a cidade e no estado. Não dá para noticiar o que não acontece. Quanto às agendas culturais, eu vejo aí um grande motivo de orgulho, pois há cerca de 14, 15 anos atrás, isso não existia. E à medida que a produção foi se intensificando, foi-se criando e conquistando esse espaço, ao ponto de hoje o público interessado ter várias opções de atrações artísticas e culturais e das agendas culturais cumprirem um papel importante. E acho que não cabe aqui discutir o mérito de qualidade ou o aspecto comercial ou não dessas produções. Pois se estamos falando de mercado, é oferta e demanda, basicamente. Se há demanda, haverá oferta. E eu só posso, além de não prestigiar, lamentar.
Como é ser um produtor de cultura alternativa em terras catarinenses?
Bom, é muito difícil atuar em qualquer atividade com a qual as pessoas que você terá que lidar não fazem a mínima ideia do que seja ou que, pior ainda, não respeitam. E é aí que eu acho que reside a principal dificuldade da função em Santa Catarina. Desnecessário falar da importância da função para o exercício da prática e do fazer artístico, porém ainda vejo uma carência na formação voltada à produção cultural independente e na fruição artística que vá além das exigências de mercado. Claro que falo isso a partir da ótica do trabalho do ERRO Grupo, que desenvolve experiências para além do teatro convencional e da lógica comercial.